Não vou pagar o pato!
Esta afirmação é de uma campanha da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) que começou quando surgiram conversas sobre o possível retorno da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) e agora está sendo usada pela entidade, que representa os empresários, como um dos principais símbolos do impeachment.
Não vou pagar o pato. Nós quem, cara pálida?
Para o economista e professor na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Guilherme Mello, para saber quem vai pagar o pato deste golpe é só ler o projeto do PMDB, ‘Uma ponte para o futuro’, parceiro da FIESP e que assumirá o Poder caso o impeachment dê certo.
Segundo Guilherme, a diminuição do Estado que propõe o projeto nada mais é que acabar com a saúde pública, Previdência, educação pública. “Isso interessa somente aos ricos e empresários deste país”.
Trecho do documento do partido do vice-presidente Michel Temer, o PMDB, sigla que abandonou o governo na tarde desta terça (29) comprova o que o professor afirma:
“Para recuperar a crise será necessário um ajuste de caráter permanente que sinalize um equilíbrio duradouro das contas públicas. As despesas públicas primárias, ou não financeiras, têm crescido sistematicamente acima do crescimento do PIB, a partir da Constituição de 1988. Em parte, esses aumentos se devem a novos encargos atribuídos ao Estado pela Constituição, muitos deles positivos e virtuosos, na área da saúde, da educação e na assistência social”.
A economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), Adriana Marcolino, lembrou de um documento que a CNI (Confederação Nacional da Indústria) apresentou em seu encontro anual em dezembro de 2012, que propõe alteração em 101 pontos da legislação trabalhista brasileira revendo “a rigidez da legislação trabalhista, a burocracia e a insegurança jurídicas crescentes, o excesso de obrigações acessórias no salário, a formação de passivos trabalhistas e previdenciários incalculáveis, a existência de instituições do trabalho não alinhadas ao aumento da competitividade e o elevado risco de gerar empregos.”
“Segundo a entidade, a proposta busca modernizar as relações de trabalho, atualizando a legislação para o momento atual reduzindo os custos de trabalho, sem contanto, em sua avaliação, reduzir salários ou direitos dos trabalhadores”, afirma ela.
Guilherme frisou de que lado a FIESP está: “Você acha mesmo que a Fiesp está preocupada com a aposentadoria do povo? Eles querem reduzir direitos sociais e trabalhistas. O mundo ideal para eles [os empresários] é que o trabalhador se aposente cada vez mais tarde, ganhando cada vez menos e sem direito a nenhum serviço público e de qualidade”.
Além da Previdência, outros direitos correm risco nesta parceria PMDB e FIESP: Política Nacional do Salário Mínimo, Sistema Único de Saúde, ENEM, ProUni, Minha Casa Minha Vida, entre outras políticas sociais implementadas nos últimos 13 anos.
Sobre o pato, Guilherme reafirmou: “Como a FIESP fala que não vai pagar o pato se ela nunca pagou?”, questionou o economista.
Para ele, além de nunca pagar o pato os empresários deixaram de pagar R$ 400 bilhões de reais com isenção de impostos nos últimos anos. “Eles deixaram de pagar esse absurdo de impostos e ainda conseguem manipular a estrutura tributária para sonegar. Quem sempre pagou e paga imposto no Brasil é o pobre”, afirma.
“Quem vai pagar o pato do impeachment, somos nós mesmo. Nós trabalhadores e trabalhadoras deste país”, completou Adriana.
O Pato antidemocrático na mídia
Na semana passada, a Fiesp “investiu” propagandas em no mínimo quatro importantes jornais, impressos e digitais, a favor do impeachment da presidenta Dilma Rousseff. De acordo com o Tijolaço, pelo cálculo de tabela de publicidade somente em impressos, os anúncios no Estadão e na Folha teria custado à entidade cerca de R$ 5 milhões.
O Estado de S. Paulo, a Folha de S.Paulo, o Valor Econômico e o Correio Braziliense exibiram em locais de destaque anúncios amarelos com o pedido de “Impeachment Já”, sem a descrição de que se tratava de um informe publicitário.
No portal do Estadão, a frase se repetia acima da manchete da primeira página do site. Para o secretário Nacional de Comunicação da CUT, Roni Anderson Barbosa, o anúncio confundia os leitores como se fosse uma campanha do próprio jornal, “não que não fosse”, completou.
“Nós sabemos que os meios de comunicação no país estão nas mãos de apenas meia dúzia de famílias e que a opinião delas é justamente essa. Boa parte da imprensa brasileira apoiou o golpe em 1964 e a gente sabe de que lado estão”, reafirmou Roni.
Já a propaganda impressa tomou cerca da metade das 14 páginas do primeiro caderno do jornal. De acordo com a tabela de anúncios, o valor para meia página custa R$ 180 mil.
“A Fiesp está investindo fortemente no golpe porque as empresas, no qual a entidade representa, têm interesses que são contrários aos dos trabalhadores. Elas [as empresas] querem flexibilizar as leis trabalhistas e retirar direitos dos trabalhadores que, segundo elas, são custos para o empresariado. O que eles querem é lucrar cada vez mais e explorar a mão de obra do trabalhador”, explicou o dirigente.
Para Altamiro Borges, jornalista e presidente do Centro de Estudos da Mídias Alternativa Barão de Itararé (organização que luta pela democratização dos meios de comunicação), a compra de espaço publicitário para defender o impeachment revela uma relação mais profunda entre mídia e setores do empresariado.
“A mídia brasileira é partidarizada, com interesses de classe. É um duplo poder: político e econômico. Um casamento, para não dizer um pacto mafioso. É um consórcio que junta os barões da mídia, setores do empresariado brasileiro e setores do Judiciário e da Polícia Federal contra a democracia brasileira”, afirma Borges.
Fonte – CUT