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ENTREVISTA – Papel da CUT e dos movimentos é combater retrocesso

parizottiPara presidente da Central, apostar na derrubada da economia para conter infla�o coloca em risco o emprego e as conquistas dos ltimos 12 anos. Vagner Freitas destaca que governo comea errado ao adotar agenda derrotada nas eleies. O ano de 2015 n�o seria fcil e isso o movimento sindical j sabia logo aps o final das eleies. A posse de um Congresso ainda mais reacionrio que o anterior e as cobranas da coalis�o que ajudou a eleger a presidenta Dilma eram garantia de muitas pedras no caminho para a continuidade do desenvolvimento com distribui�o de renda e inclus�o social. Surpreendente foi o pacote de medidas que o governo federal anunciou de incio, por meio de Medidas Provisrias (MPs) 664 e 665, que atacavam conquistas caras aos trabalhadores, especialmente os mais pobres, como o seguro-desemprego e o abono salarial. Nessa segunda (19), em reuni�o da CUT e das demais centrais sindicais com os ministros da Secretaria-Geral da Presidncia da Repblica (Miguel Rosseto), do Planejamento (Nelson Barbosa), da Previdncia (Eduardo Gabas) e do Trabalho (Manoel Dias), o Executivo frustrou as expectativas ao dizer que n�o revogaria as medidas. Mas, ao menos acenou com a possibilidade de mudanas no contedo das aes. Em entrevista, o presidente nacional da CUT, Vagner Freitas, destaca que o princpio de derrubar a economia para conter a infla�o um equvoco, tanto quanto abrir o capital da Caixa Econmica Federal. Ele apontou ainda que a Central ter como eixo central de 2015 a luta por direitos e contra a direita e defendeu uma manifesto em defesa da Petrobrs. Portal da CUT ?” O que a reuni�o de ontem com os ministros tirou de concreto? Vagner Freitas ?” A CUT deixou claro ao governo que contrria s medidas provisrias. Contrria forma, porque foram feitas sem negocia�o conosco, e ao contedo, porque os trabalhadores n�o arcar�o com a conta de um ajuste fiscal que o governo queira fazer. O governo chegou dizendo que n�o retirada de direitos, mas sim e n�o temos concordncia com isso. H outros atores na sociedade com muito mais condies de arcarem com esse ajuste do que os trabalhadores que acessam o salrio?”desemprego, a pens�o por morte, o auxlio-doena. Falamos para o governo, por exemplo, tributar as grandes fortunas. O sujeito compra iate, lancha e n�o tributado. Assim como n�o mais necessrio o Brasil ter uma ditadura do supervit primrio. O tempo todo estamos condicionando a economia ao pagamento aos rentistas. Deve haver equaliza�o das contas, porm, o governo est, inclusive, utilizando argumentos inconsistentes ao dizer que h fraude nos benefcios. Temos que fazer anlise e punir os fraudadores, mas n�o simplesmente alegar que todo o sistema fraudulento. Alm disso, o valor da economia irrisrio para as contas do governo e muito caro para os trabalhadores que perdem o direito. A expectativa que as medidas fossem revogadas, j que tnhamos quatro ministros no encontro. H hiptese de isso acontecer? Obviamente, os ministros n�o acharam que iriam convencer as centrais de que as medidas estavam corretas. Com base no estudo do Dieese (Departamento Intersindical de Estatstica e Estudos Socioeconmicos), comprovamos que se tratava de perda de direitos e, aps apresentarem medida por medida, reafirmamos nossa contrariedade e solicitamos que revogassem as medidas para abrirem negocia�o conosco. Eles afirmaram que n�o poderiam revogar por uma quest�o de tempo, caso contrrio, n�o poderiam ser aplicadas em 2016, mas apontaram um espao para negocia�o. Faremos uma nova reuni�o entre centrais e o governo no dia 3 de fevereiro e, antes, haver uma reuni�o entre nossos tcnicos e do Executivo para levarmos nossas propostas. Pelas primeiras medidas que vemos o governo adotar, parece que teremos novamente a velha frmula de derrubar a economia para controlar a infla�o. O caminho esse? Minha preocupa�o muito maior do que com as medidas vistas isoladamente. O que eu questiono qual a linha poltica e econmica que esse governo ir desenvolver. Porque durante a campanha eleitoral fizemos debate do desenvolvimentismo contra o conservadorismo. Os apoiadores da campanha derrotada tinham o discurso da necessidade de frear a economia e o consumo e diminuir o valor do salrio mnimo, at fazendo rela�o entre o crescimento do mnimo em contraposi�o ao menor crescimento da produtividade das empresas. Diziam que esse ciclo de constru�o de poltica de crdito e de expans�o do mercado interno tinha acabado. O governo se elegeu com um discurso contrrio a esse e as primeiras medidas, quando o governo anuncia ajuste e n�o taxa a lucratividade dos empresrios, nos deixa preocupados. Temos que fazer um acordo com a sociedade brasileira pelo desenvolvimento e pelo crescimento da economia. A preocupa�o da CUT que a poltica econmica de Joaquim Levy e seus pares seja do corte, do corte, do corte e do corte que leva recess�o, ao n�o crescimento da economia, expans�o da infla�o e ao aumento da taxa de juros. E isso significa desemprego e dificuldade enorme para ter aumento real nas campanhas salariais. Parece que o governo est derrubando a economia para conter a infla�o e por isso mexe no seguro-desemprego, porque sabe que quando derruba a economia e n�o tem investimento, o desemprego sobe. Essa poltica conservadora tem sido adotada em boa parte do mundo e n�o tem dado resultado, em especial para os trabalhadores. A CUT tem batido bastante na tecla da revitaliza�o das cadeias produtivas, assunto que ganhou ainda mais espao com a demiss�o (e posterior readmiss�o) dos metalrgicos do ABC no incio do ano. Como possvel fazer isso? Com cmbio e juros como est�o, qualquer medida paliativa e a indstria continuar com dificuldades. Claro que o choro dos empresrios tambm precisa ser visto com ressalva, porque n�o que as indstrias est�o quebrando, mas sim deixaram de investir na produ�o. Percebe-se que boa parte da rentabilidade da Volkswagen foi com aquisi�o de papis. Fica em crise o trabalhador que perde emprego e tem o salrio arrochado e n�o o industrial, porque esse continua com o mesmo padr�o de vida, avanando no rentismo e n�o na produ�o. O governo tem de ter uma poltica que ancore o crescimento da indstria, mas n�o pode compactuar com esse tipo de postura das indstrias, de obter um lucro fcil no mercado financeiro. Mas tem de ter linha de crdito para produ�o, para obten�o de novas tecnologias, para qualifica�o profissional, para gera�o de empregos. E isso deve ser com investimento pblico, com uma economia voltada ao crescimento. A poltica de valoriza�o do mnimo corre risco? A presidenta prometeu que continuar com essa poltica. Agora, depende da rea�o da poltica econmica. Se voc tiver recess�o, juros altos e deixar de crescer, vai ter desemprego. Com desemprego haver press�o para que n�o tenha mais aumento do salrio mnimo nos nveis praticados nos ltimos anos. J temos um problema, porque a regra construda era combinar PIB (Produto Interno Bruto) e infla�o, porm, se n�o tem crescimento do PIB, s sobra a infla�o para o trabalhador. Mesmo a presidenta prometendo que n�o vai alterar, a economia recessiva n�o d condi�o de manter aumento real acima da infla�o e a corre�o do mnimo. Para o discurso da presidenta tomar prtica preciso que a poltica do senhor Joaquim Levy (ministro da Fazenda) n�o seja recessiva. As denncias sobre casos de corrup�o na Petrobras continuam em pauta tanto quanto a desvaloriza�o da empresa. possvel reverter isso? A CUT e seus sindicatos discutir�o em todo o pas a defesa da Petrobras e de seus trabalhadores por meio de um manifesto que debata com a sociedade brasileira a atrocidade que tem sido cometida contra a maior empresa brasileira, responsvel por quase 13% do PIB. Se h irregularidades, que sejam punidos os culpados, mas estamos num processo de desmonte da empresa para prepar-la para a privatiza�o e entreg-la economia internacional, como queria o Fernando Henrique Cardoso, que pretendia transformar a Petrobras em Petrobrax. Se fosse aberta e repassada para a iniciativa privada, alguns interessados ganhariam muito dinheiro. A proposta que tenhamos investimento do Estado para mantermos uma empresa forte nacional, gerando empregos aqui e n�o fiquemos na dependncia do capitalismo internacional. Entre as empresas de capital aberto, a Petrobras se tornou a maior produtora de petrleo do mundo, para voc ver como atrativa e atraente para o mercado internacional. As denncias j resultam em demiss�o de trabalhadores prestadores de servio. A CUT dialogou com o governo sobre isso? Primeiro, precisamos ter claro se, por conta desse momento turbulento, a Petrobras n�o repassa o recurso para a empresa ou se repassa e os prestadores de servio acertam suas dvidas e n�o paga os trabalhadores. Sabemos que h mais de 12 mil nessa condi�o e exigimos que aja uma solu�o. J procuramos o governo para dizer que o trabalhador n�o pode ser penalizado. Defendemos que exista o pagamento direto da Petrobras para os trabalhadores numa conta que n�o passe pelas empresas, que seja via Ministrio do Trabalho, mas que sejam pagos e n�o aja demiss�o. Em rela�o s privatizaes, especula-se tambm a possibilidade de abertura do capital da Caixa. Qual a posi�o da CUT sobre esse tema? O debate foi colocado de uma forma completamente equivocada, criou intranquilidade enorme para trabalhadores e deixou grande dvida. A CUT contra, porque a Caixa uma empresa sob controle do Estado e, por isso, tem liberdade para estabelecer polticas de apoio ao crdito, habita�o, de interven�o do Estado na economia, enfrentando o rentismo privado. A partir do momento em que vira empresa de economia mista, passa a ter certos controles que a legisla�o impe e dificulta aes pblicas inerentes a um governo que intervenha na economia em favor do desenvolvimento social. E, pior, o governo n�o disse porque faria isso. Espero que n�o tenha a perspectiva de engordar o supervit primrio ou mostrar ao mercado que est sendo austero. Essa seria uma vis�o imediatista e n�o estratgica. Outra dvida se o governo manter as polticas sociais com uma Caixa de economia mista. Tirar recursos de onde, do Tesouro? Ou pensa em n�o manter e diminuir os investimentos em polticas sociais? Vamos ceder press�o das instituies privadas, que n�o tem rela�o com crescimento do Brasil, com oferta de juros, de crdito, e vamos abrir o mercado sem regulamenta�o? Por isso a forma como foi colocada em debate foi desastrosa. O governo precisa avaliar quais instrumentos que ter para fazer polticas pblicas e intervir na oferta de crdito quando o setor privado n�o tem a menor inten�o de fazer. Em 2015, qual vai ser o eixo prioritrio de luta da CUT? A manuten�o dos direitos, do emprego e uma poltica de crescimento econmico. As primeiras medidas do governo demonstram que sabe que h um descontrole e quer controlar a infla�o, mas n�o concordaremos que esse controle seja feito custa da manuten�o dos empregos. A manuten�o dos postos de trabalho essencial. Fica claro tambm que se trata de um governo de coalisa�o, de disputa, que tem pessoas como a presidenta, que progressista, partidos como o PT, que progressista, mas tambm aliados altamente conservadores, que empurram governo para uma gest�o conservadora. O papel da CUT e dos movimentos sociais empurrar para a esquerda, dar condi�o para a presidenta Dilma colocar em prtica o discurso que fez quando ganhou as eleies e que era completamente diferente do discurso do candidato derrotado. Precisamos fazer muita mobiliza�o. N�o a toa que faremos um Dia Nacional de Luta, em 28 de janeiro, a Marcha da Classe Trabalhadora no dia 26 de fevereiro e vamos ter que fazer muita mobiliza�o de rua. Nosso mote neste ano ser ?pelos direitos e contra a direita.? Pelos direitos dos trabalhadores, nenhum direito pode ser retirado, pela manuten�o do emprego, para que continuemos a ter aumento real de salrio, e contra essa direita preconceituosa, virulenta, que n�o aceita o resultado das eleies, que pede impeachment da presidenta legitimamente eleita e que tenta inviabilizar governo com todas as dificuldades. Eu critico o governo quando erra, mas a alternativa contra a candidatura que foi derrotada. Porm, n�o podemos ter retrocesso poltico ou econmico, n�o adianta vencer as eleies e colocar a agenda conservadora em prtica. N�o a toa que temos nos reunido com movimentos sociais, que somos parte da Frente Nacional de Esquerda que estamos criando e constituindo com esse mote. (CUT Nacional, 21/01/2015)

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