HomeCONJUNTURAQual candidatura defenderá os empregos e os salários&#63

Qual candidatura defenderá os empregos e os salários&#63

aeciodilma3 Cria�o de empregos e aumento real de salrio s�o principais ferramentas de redu�o das desigualdades S�o Paulo – Com base nas gestes tucanas e petistas no governo federal, Marcio Pochmann, professor de economia da Unicamp e presidente da Funda�o Perseu Abramo, analisa os dois modelos econmicos em disputa na elei�o presidencial do prximo domingo (26): o neoliberal, subordinado ao capital financeiro internacional (representado pelos Estados Unidos), que promoveu desemprego e arrocho salarial, perpetuando a histrica desigualdade social do pas; e o desenvolvimentista nacional, que distribuiu a renda, criou mais de 20 milhes de empregos, criou programas sociais e combateu a fome e a misria. Nesta entrevista ao Jornal Brasil Atual, Pochmann tambm comenta o receiturio prtico do PT e do PSDB frente aos perodos de crise econmica internacional vividos por ambos e as perspectivas da gest�o econmica, do combate infla�o e da retomada do crescimento para Dilma Rousseff ou Acio Neves no Palcio do Planalto em 2015. Quais as principais diferenas entre os dois modelos econmicos em disputa no segundo turno da elei�o presidencial, com base nos governos anteriores do PT e do PSDB? A elei�o presidencial de 2014 vai desempatar dois projetos de Brasil bem distintos. A elei�o do presidente Collor, em 1989, abriu um perodo de 12 anos (dos quais, oito anos foram conduzidos pelo tucano de Fernando Henrique Cardoso) de um projeto de Brasil bem diferente daquele que ns observamos nos ltimos 12 anos, que se iniciou com a elei�o do presidente Lula, em 2002. No primeiro perodo, ns tivemos a consagra�o de um projeto de pas que era para uma parcela da sociedade, privilegiado por uma estabilidade monetria, que teve como principal custo o desemprego e a manuten�o das enormes desigualdades entre diferentes segmentos da sociedade nas regies brasileiras. De certa maneira, foi a continuidade de uma herana histrica em que o Brasil existente n�o cabia nesse projeto, que era para apenas dois teros da sociedade brasileira. Foi uma parte da histria em que o Brasil se subordinou ao protagonismo do capital financeiro em uma aliana com os Estados Unidos. Com a elei�o do presidente Lula, em 2002, o que podemos verificar nos ltimos 12 anos um projeto de desenvolvimento nacional, cuja principal marca um Brasil para todos, na medida em que o enfrentamento da exclus�o social nos permitiu reduzir o desemprego, seja pela eleva�o do nvel de emprego, pela amplia�o dos salrios na economia nacional ou pela amplia�o das polticas pblicas. Ns passamos a ter um quadro em que os pobres melhoravam de vida concomitantemente com a melhoria dos segmentos mdios e ricos do pas. O pleno emprego um tema recorrente da campanha presidencial. O PT reivindica essa conquista, referendada por diversas instituies, enquanto o PSDB diz se tratar de uma falcia. Qual a sua anlise desse quadro? De desemprego a candidatura do Acio Neves conhece muito bem. Ao final dos anos 1980, o Brasil era o 13 pas em nmero de desempregados, com uma taxa ao redor de 2,7% da fora de trabalho. No ano 2000, o Brasil passou a ser o terceiro pas do mundo em nmero de desempregados, chegando a 15%. Perdamos apenas para a China e para a ndia, que s�o pases muito mais populosos. Foi um perodo de forte amplia�o do desemprego, de enfraquecimento do movimento sindical e de queda continuada na participa�o dos salrios na economia nacional. J no perodo de 2003 pra c, tivemos uma queda na taxa do desemprego. Foi uma redu�o importante porque se conseguiu elevar em mais de 20 milhes o nmero de empregos criados. Houve invers�o de prioridades na medida em que os governos do presidente Lula e da presidenta Dilma passaram a ter como propsito distribuir a renda para a economia poder crescer, o que era absolutamente inimaginvel at ent�o, porque as medidas econmicas dos governos anteriores pressupunham que era primeiro preciso crescer para depois distribuir. E a experincia acumulada at ent�o era de que, quando a economia conseguia crescer, n�o havia a reparti�o desses frutos. A redistribui�o da renda nos ltimos anos elevou o nvel de consumo e atraiu investimentos. Tambm tivemos a possibilidade de enfrentar o desemprego com o poder de os mais jovens chegarem mais tarde ao mercado de trabalho, especialmente os segmentos mais pauperizados da popula�o, pelas condies criadas no sistema educacional, que passou pela expans�o da oferta do ensino mdio, do ensino universitrio e dos programas de transferncia de renda. Isso nos ajudou a evitar uma situa�o do passado, em que os pais eram muito pobres e n�o tinham condies de dar sustento aos seus filhos, que entravam muito cedo no mercado de trabalho, despreparados, ocupando as piores vagas oferecidas. Os dois modelos econmicos enfrentaram perodos de crises internacionais e ambos tiveram formas distintas de combat-las. Qual a sua avalia�o? Essa uma boa oportunidade de avaliar a atua�o desses dois projetos de pas. No primeiro modelo, o projeto neoliberal, na segunda metade dos anos 1990, embora a crise at tenha sido muito menor do que a crise econmica de 2008 (que ainda estamos vivendo), ela afetava o Brasil e terminava sendo aprofundada aqui. O governo brasileiro, em vez de reagir crise, terminava favorecendo o seu alastramento, pois as medidas tomadas, como a eleva�o da taxa de juros, os cortes de gastos pblicos, a redu�o dos investimentos, o n�o aumento do salrio mnimo, a n�o corre�o dos salrios do setor pblico, terminavam fazendo com que os mais pobres, os trabalhadores pagassem a conta. Essas medidas terminavam por enxugar ainda mais a economia, que se contaminava por fora externa. Dizia-se que quando os Estados Unidos tossiam, o Brasil pegava uma pneumonia, e justamente aprofundava a prpria crise. Em 2008, o marcante que o Brasil n�o aceitou mais esse receiturio e reagiu de forma muito contundente e exitosa. O Brasil reduziu a taxa de juros, aumentou o gasto pblico, elevou o salrio mnimo, ampliou o investimento, fortaleceu os bancos pblicos. Tudo isso permitiu que o pas passasse quase inclume crise iniciada em 2008, evitando que os mais pobres fossem os mais prejudicados. Tanto que o Brasil segue reduzindo a desigualdade e a pobreza, o que n�o se verifica na maior parte do mundo atualmente, apesar de a crise internacional iniciada em 2008 n�o ter sido resolvida totalmente at hoje. Qual o cenrio que Dilma Rousseff ou Acio Neves v�o encontrar a partir de 2015? A gente tem que olhar para os anos da presidenta Dilma como anos de prepara�o para o salto do Brasil em rela�o ao seu investimento. Ns tivemos um crescimento ao longo dos anos 2000 fundado na expans�o externa da economia e no mercado interno, que foi muito importante. Mas n�o era o suficiente se o Brasil n�o viesse a melhorar as condies para que o investimento ampliasse a capacidade produtiva do pas. Por isso foi necessrio fazer mudanas importantes, que ocorreram de 2011 at agora. Hoje, o Brasil est preparado para crescer. H dificuldade para crescer em 2014 porque um ano eleitoral em que h dois projetos em disputa: um diz que o pas est quebrado, que a infla�o est descontrolada, que as finanas pblicas est�o muito ruins. O diagnstico da oposi�o, de que o Brasil est completamente desorganizado, prope que seja necessrio fazer um ajuste fiscal, aumentar a tributa�o, reduzir os gastos, elevar os juros, liberar os preos administrados. Tudo isso aponta para um cenrio de recess�o de fato em 2015, de redu�o dos salrios, de redu�o do consumo. De tal forma que o empresrio dificilmente toma uma decis�o de investimento, que envolve um longo prazo at viabilizar seu empreendimento. a nossa stima elei�o desde a redemocratiza�o e, como eu disse no incio da entrevista, a elei�o que vai desempatar qual projeto de pas vai comandar nos prximos quatro anos: o projeto dos 12 anos que se iniciou com o Collor, em 1990, e eu chamo de “A era dos Fernandos”; ou esse projeto que se inicia com o presidente Lula e possivelmente ter continuidade com a presidenta Dilma, que requer considerar o Brasil em outra magnitude. Um pas que reconhece os problemas e faz o enfrentamento de forma gradual na economia. A infla�o est na borda superior da meta, mas possvel traz-la para a meta. Isso leva algum tempo. N�o se abandonou o combate a infla�o, s o que n�o se deseja fazer utilizar instrumentos que terminem comprometendo a economia do ponto de vista do seu dinamismo, dos empregos e dos salrios. Em vez de enfrentar a infla�o como se fosse um choque, preciso enfrent-la de forma gradual. E ns vamos ter o ano de 2015 muito positivo, pois j teremos a possibilidade de resolver os problemas da balana comercial, que dependem, por exemplo, da importa�o de combustvel, com a conclus�o da refinaria de Pernambuco. E com maior matura�o de uma srie de investimentos e estruturas que foram tomados neste perodo. Passando o processo eleitoral, o Brasil estar preparado para crescer, conduzindo a poltica econmica de forma gradual e instrumental. O Brasil dar esse salto que nos permitir chegar a 2020 entre as cinco economias mais ricas do mundo, tendo resolvido problemas que se arrastam por sculos, como a quest�o da desigualdade e da misria.  

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