Maria Aparecida Cortez
Em períodos recentes, os estudantes da rede pública estadual de MT escolhiam, democraticamente, os modelos de uniformes, desenhos e logomarca das escolas que eram impressos, principalmente, nas camisetas.
Este procedimento imprimia uma identidade, pois, as vestimentas mostram os costumes, tradições e contam a história da comunidade. Assim, o uniforme tornava também símbolo da escola e em qualquer lugar em que se encontrasse referia onde estudavam sendo motivo de orgulho, pertencimento e coesão da comunidade escolar.
Sem consultar a juventude pré-adolescente e adolescente, a gestão do governo Mauro Mendes passou entregar kit de uniforme e outros materiais pedagógico como por exemplo as apostilas, que vimos constantemente espalhados próximos as escolas.
A entrega dos uniformes faz parte da série de ações autoritárias, que não visam o cumprimento do papel democrático da educação. São projetos da SEDUC que tem se mostrado desrespeitoso com a autonomia das comunidades escolares. Como por exemplos são: as escolas militares instituídas sem qualquer diálogo com os grupos sociais, o fechamento de escolas de maneira unilateral, o fim do modelo de gestão dos CDCEs com as alterações da Lei 12.412/24, em que o diretor (não mais eleito) passa a ser o presidente do conselho deliberativo, e a redução da participação popular nesse órgão de direito privado de grupos colegiados de até 16 pessoas, somados titulares e suplentes, para uma diretoria composta por 3 participantes apenas, presidente (diretor), tesoureiro e secretário.
Essas mudanças não se encontram descoladas de um contexto, elas são a cristalização de um modelo de gestão que diz o que a população quer e precisa sem ao menos consultá-la.
A temática em torno da obrigatoriedade do uso do uniforme escolar retoma o modelo inicial que justifica o uso do uniforme, da tradição militar o que se pretende é o incentivo a um processo de homogeneização, ainda que os uniformes aplicados sejam totalmente incompatíveis com o clima ou a estética da comunidade que tem que se submeter ao seu uso. E quando se fala em educação, um tema é indiscutível, a homogeneização é incompatível com os princípios e normas que regem a educação brasileira.
Adentrando no episódio nos uniformes descartados, de maneira pragmática, temos algumas considerações a fazer: O short feminino, de corte em serie e em larga escala, apresentam defeitos na modelagem sem caimento que gera uma sobra de tecido frontal, deformando a peça. Podemos afirmar que um corte impreciso pode impactar diretamente a qualidade do produto, além de influenciar aspectos como o conforto do usuário e a durabilidade da peça. Os tênis entregues já tiveram fartamente demonstrado a má qualidade como por exemplo descolamento nas primeiras usadas. Além disso, entendemos que há necessidade de um especialista avaliar se os tênis distribuídos consideram a forma de pisar de cada estudante, se são adequados para as atividades de educação física ou até mesmos “se há perigo de fratura por estresse no osso, lesões no músculo e tendões.
Além desses aspectos ortopédicos resta o estético que indubitavelmente deixa a desejar. Nessa mesma linha, segue a estética das mochilas, com qualidade duvidosa.
O descarte da roupa é uma resposta ao modelo de gestão da SEDUC; com a juventude o caminho é o diálogo. Ouvir os estudantes é fundamental. Quanto ao descarte de uniformes, não é só os estudantes que estão fazendo. A Seduc precisa de forma transparente de explicar sobre os descartes de inúmeros materiais (apostilas, tênis, livros) estocados em uma escola abandonada em Várzeas Grande, e outros municípios, o desperdício é típico da práxis da SEDUC, sem popularização de medidas de educação ambiental e reciclagem, trata-se de uma postura hipócrita punir o suposto desperdício do outro, sem oferecer uma postura digna dessa cobrança.
Por fim desta análise, a portaria que obriga o uso do uniforme assume caráter de conveniência, uma vez que, a repercussão da mídia que justificou a obrigatoriedade, e não o diálogo e o debate com as comunidades, trata-se de medida eleitoreira sem embasamento real do interesse público. As comunidades têm o direito a identidade, ao estímulo à produção e reprodução da própria cultura e tradição, sendo assim, é totalmente descabível uma medida dessa com base em um caso isolado, que claramente não tem adesão popular.
Maria Aparecida Cortez, é funcionária da Educação (técnica administração escolar), direção do Sintep/VG e do Sintep/MT