Uma das mais fortes insgnias do movimento feminista : o Machismo MATA. Nossa luta existe para transformar esta realidade na qual, apesar de lutas de anos a fio, o machismo continua a nos matar, matar a ns, mulheres. Os agressores matam a alma, a dignidade e finalizam tirando-nos o que temos de mais caro: a vida! A violncia contra as mulheres a forma encarnada da domina�o da opress�o patriarcal e a sua express�o se concretiza atravs da combina�o das ideologias conservadoras, machistas e misginas. Materializam as relaes sociais de poder. o poder patriarcal sobre as mulheres, que as atinge em vrios contextos de suas vidas. A luta do movimento feminista tem sido incansvel, por isso as formas cruis como as mulheres est�o sendo mortas ?” estupradas, violadas, trucidadas -, assustam-nos e tm nos desafiado cada dia mais a lutar para transformar esta realidade. Mesmo atuando nesta frente desde que entrei no movimento feminista ?' por sinal, entrei por esta porta, movida pela indigna�o diante da morte de uma companheira -, duro constatar que ainda me indigno da mesma forma. Ainda nos indignamos e continuaremos a nos indignar e a lutar pelo fim desta violncia, a lutar contra cenas de terror que seguem se repetindo a cada dia. Na ltima semana, acompanhamos nos jornais casos estarrecedores. E novamente nos erguemos para dizer que n�o podemos deixar que imagens como estas das manchetes fiquem impunes. Foram trs casos entre Paraba e Pernambuco e um terceiro no Esprito Santo. Por que ?elas? foram mortas e estupradas? Por serem mulheres. Mas os algozes queriam tambm ceifar-lhes a vida. Como se n�o bastasse todo o sofrimento, o medo, a viola�o dos seus corpos, elas ainda foram condenadas por eles. Tinham que morrer. Aps os estupros, passaram por cima de seus corpos com o carro de uma delas. E o bebe de 9 meses que estavam com elas foi jogado na mata. Glria morreu. Caroline sobreviveu. Mas as marcas do sofrimento nunca v�o cicatrizar. O que seria um assalto e roubo de carro, transformou-se em estupro e morte. Eram mulheres e o DESEJO de estupr-las foi maior. Em Pernambuco, Maria Alice, criada por seu padastro desde os quatro anos de idade, aos 19 anos foi estuprada e morta por ele. Seu algoz passou a desej-la, segundo ele, quando ela completou 16 anos. A menina passou a objeto do DESEJO de seu Padrasto, e este decidiu que iria possuir o seu corpo simplesmente porque queria. Maria Alice j estava namorando e foi a que o sentimento de posse se agudizou e o Padrasto resolveu possu-la. Matar o seu DESEJO e matar a sua vtima. Estuprou, assassinou e abandonou o corpo no Canavial. Na Regi�o Metropolitana de Vitria, no Esprito Santo. Mayara Silva de Jesus, 16 anos, morta a pauladas e esquartejada pelo seu ?companheiro? no ltimo dia 19 de junho. A morte neste caso foi ?motivada?, segundo ele, por suspeita de trai�o. Mayara trocou mensagens com um homem numa rede social e esta foi a sua sentena de morte. O acusado n�o ?suportou? a suposi�o de ser trado. E como em tantas histrias j contadas, lavou a sua honra com o sangue da ?companheira?. Tambm em Pernambuco, Aldenize Firmino da Hora, de 36 anos, desapareceu no domingo 21 de junho e seu corpo foi encontrado dentro de um balde, no dia 24, na casa em que seu ?companheiro? morava. Esses dois ltimos casos configuram enredos repetitivos de assassinatos violentos entre pessoas que tinham uma rela�o afetivo-conjugal. Filmes de terror? N�o. Apenas a vida real ao longo de cinco dias em nosso pas. Todos estes casos aconteceram entre os dias 19 a 24 de junho de 2015, e estas cinco mulheres entraram nas estatsticas. A situa�o no pas Os dados sobre a violncia no pas s�o gritantes e assustam ainda mais por sabermos que este tipo de crime historicamente marcado pela subnotifica�o. Segundo o IPEA (pesquisa de 2013), 15 mulheres s�o mortas por dia no Brasil. Estima-se que ocorram 527 mil estupros no pas, a cada ano. Estes casos tambm tm cor. O ndice de mortes de mulheres negras tem aumentado. Apesar de grandes conquistas contra o silncio e a impunidade na aprova�o da Lei Maria da Penha e, mais recentemente, com a aprova�o da lei do Feminicdio, a puni�o dos agressores ainda demanda mobiliza�o social. Precisamos entender que as leis n�o findam em si mesmas. Este um problema estrutural de uma cultura machista, racista e homo-lesbo-transfbica. Se deixamos por conta da morosidade da Justia e da falta de sensibiliza�o do sistema, a impunidade se perpetua. Temos que cobrar punies, e de imediato. Em paralelo aos avanos nas legislaes, que precisam ser implementadas verdadeiramente, temos tambm que lutar por uma transforma�o das mentalidades de homens e mulheres. De toda a sociedade. preocupante o que vimos nesta ltima semana: a orquestra�o nas casas legislativas, Brasil afora, para a retirada, nos Planos de educa�o, do tema ?gnero?. A transforma�o das mentalidades passa pela educa�o. Sobretudo pelo ensino bsico, na escola. Esse processo de incidncia conservadora no ensino, sem qualquer justificativa plausvel e deslegitimando o pensamento crtico de educadores comprometidos com mudanas na sociedade, leva ao aprofundamento de um pensamento tambm conservador, que acirra a desigualdade e a discrimina�o, impedindo a forma�o das crianas e jovens para a tolerncia e o respeito. Ser que repetitivo alardear sempre que o Brasil est em stimo lugar entre os pases onde mais ocorrem assassinatos de mulheres? Ser que a popula�o brasileira ainda n�o se deu conta desta situa�o e n�o consegue reconhecer que as relaes entre homens e mulheres s�o estabelecidas sob cdigos desiguais de poder, que admitem a perspectiva de que mulheres devem viver sob o mando de um dono? Esta mentalidade traz estas consequncias gravssimas. Ser que n�o conseguimos enxergar que as mulheres est�o sendo vtimas dentro e fora de casa? E que por maiores que sejam os avanos que conquistamos, ainda n�o temos o direito de ir e vir? Ler as notcias e acompanhar os casos de violncia nos cansa e nos maltrata. Mas n�o nos paralisa. Nossa REVOLTA n�o permite que silenciemos. Temos cada vez mais convic�o do quanto o movimento feminista necessrio na luta incessante pelo fim da violncia contra as mulheres. Assim como necessrio que esta luta n�o seja s nossa. Mas de toda a sociedade brasileira. Temos que continuar indo para as ruas denunciar esta violncia que assola o pas e marca nosso corpo com dor e revolta. Iniciamos este texto-desabafo com uma insgnia do movimento e terminamos com outra: POR MIM, POR N?”S E PELAS OUTRAS! Esta a nossa luta pelo fim da violncia contra as mulheres no nosso pas. (*) Analba Braz�o Teixeira militante da Articula�o de Mulheres Brasileiras e Educadora do SOS Corpo ?” Instituto Feminista para a Democracia.