Por Verônica de Cássia da Silva
É só atravessar uma ponte que liga Cuiabá a Várzea-Grande, mas é como se atravessássemos um oceano, um continente. Várzea-Grande parou no tempo, tirando os grande comércios que se localizam no início da ponte e vai até o centro industrial, seguindo em frente, na mesma direção. Porém, não segue a mesma direção, em frente, é o serviço público, principalmente a educação. Observar a educação várzea-grandense é como voltarmos a 1930, ou pior ainda, aquele tempo, professor era valorizado, senão no holerite, mas no status quo social.
Falando com propriedade, após um ano de trabalhos prestado à cidade, foi possível observar o quanto a minha ex-namoradinha parou no tempo. A população ainda continua venerando a velha política, dou-te um pacote de feijão e você torna-se meu escravo, isto para os pobres. Os ricos, segue quase da mesma forma, ganha um pouco mais do que feijão, mas conquistam o direito de pousar junto ao prefeito em cima dos palanques, em dias festivos e durante as eleições; outros, um empreguinho por indicação nos órgãos públicos, a SMECEL (Secretaria Municipal de Educação, Esportes e Lazer de Várzea Grande) lotada destes.
Nesse embalo, os Campos lidera desde a primeira prefeitura, de lá para cá fortunas foram juntadas, enquanto acumulava-se cargos majoritários na política, de governador a senador. Estão, eles lá com o discurso de que querem o melhor para o nosso estado e para pequena cidade, ambos cansados de serem sucateados em todos os aspectos. Não posso opinar em saúde, emprego…, mas em infraestrutura e educação posso, pois foi um ano de ida e vinda a nossa querida vizinha, foi possível observar que o século XXI vai demorar séculos para chagar à vizinha VG. Será necessário muito mais do que atravessar uma ponte.
Alguns profissionais da educação, após serem aprovados no concurso, passaram a conhecer melhor a cidade que sonhara, trabalhar ou nela viver, pois eu, particularmente, guardo excelentes lembranças, ótimos momentos, mas, não foi graças a política nem à administração da cidade, e sim, graças às pessoas maravilhosas que compõem sua população.
Foram dias encantadores durante a adolescência, na Salin Nadaf, as praças em frente ao Fiotão, que por sinal leva o nome do primeiro prefeito, seu Fiote e este deixou seus sucessores que pouco fizeram, senão sucatear o estado e a pequena cidade que respira à força.
Tudo ali é minguado, se quiser ir a um bairro da periferia de ônibus, é necessário ir ao terminal passar horas dentro do terminal, depois dentro de um ônibus. Morar em Cuiabá e trabalhar em Várzea Grande, um pesadelo, é perder seis horas dentro de transporte coletivo, se mora na cidade, perde metade do tempo. Momentos perdidos, que poderiam ser dedicado a outro emprego ou à família. Privilégio negado aos trabalhadores, sem falar no desconforte e na exaustão que tudo isso os causa.
Quanto a educação, esta está longe do cumprimento da BNCC (Base Nacional Comum Curricular), salas de aulas super lotadas, alunos mal alfabetizados, muitos não conseguem alcançar o mínimo exigido para idade, lamentável. Mas, o feijão está lá, a comida é de primeira qualidade, assim, enquanto se é criança uma refeição de qualidade é garantida à população. Esta mal alfabetizada, na vida adulta irá lutar por uns grãos de feijão para colocar no prato e garantir na urna um novo voto para os CAMPOS.
Seguindo assim, a monaAnarquia. Após eleições ganha, vamos reformar as escolas, e nas primeiras chuvas tudo alagado, não houve aula, primeiro vento, uma janela cai na cabeça do aluno, segundo vento, a professora juntou 33 alunos, em uma sala que já é pequena, em canto para dar aula. Deveria chamar o maior especialista em educação para observar se o aprendizado flui ali, o professor cuida para que não se matem e ele não ser exonerado por incapacidade de dominar os alunos. Dominar? São o quê? Rebanho?
Então, nesse ritmo seguem as desculpas, já previamente teorizada, contexto social e histórico da criança, da população. Dizer que isso influencia na educação, é óbvio que influencia, porém o que se dever fazer para que isso não se torne um peso na vida da criança? Salvar todos é impossível, realmente, mas dentro desse contexto há muitos que precisam de apenas uma orientação melhor, uma sala de aula mais atraente, não um professor que “tenha domínio de classe” ouvem-se muito isso. Mas dominar uma classe com 34 (TRINTRA E QUATRO) crianças apenas com giz e quadro negro e uns minguados recursos, salas pequenas e quentes é quase ou senão desumano para docente e discentes, para estes, os carentes perdem mais, pois alguns, não frequentam nem lanchonete da equina, imagine centros culturais.
Alguns diretores e coordenadores estão mais preocupados em mostrar serviço, isso significa não saber orientar professor para trabalhar no limite, pois eles também não sabem, mas devem mostrar serviço, então jogam a culpa no professor, devolve-os para secretaria, persegue-os e humilha-os dentro do ambiente de trabalho, refutam seus talentos e seus projetos. Não se atreva a fazer algo de inusitado em algumas escolas, pois você poderá ser humilhado. Um professor contador de história não ter o privilégio de contar uma história para entreter as crianças na entrada, ser humilhado pela deficiência visual e ser obrigado a respeitar as diferenças é no mínimo patético.
Desse modo e seguindo essas tristes histórias, professores seguem pedindo exoneração, pois existe a falta de consideração, sem a progressão automática da carreira há mais de oito anos. Inclusive os trabalhadores da educação de VG vem travando uma luta desde 2015, início da gestão Lucimar Campos, cobrando da Prefeita reconhecimento, respeito e valorização profissional como condições fundamentais para garantir uma escola de qualidade para todos e todas. Porém, ainda no ano de 2015, quando assumiu a prefeitura, Lucimar Campos propôs, assinou e sancionou a Lei 4.093/15, comprometendo com os trabalhadores da educação que cumpriria num prazo de 180 dias, estudos e a efetiva implantação das reivindicações como enquadramento, revisão do PCCS e outras.
Se passaram cinco anos de estudos. E, até a presente data a prefeita Lucimar Campos, no último ano de sua gestão, não honrou com o compromisso assumido com os trabalhadores da educação que estão saturados de tantos estudos e nada concretizado. Muita enganação. A prefeita nem se quer apresentou um cronograma de implantação gradativa do enquadramento na sua integralidade (nível e classe) para toda a categoria conforme a legislação. E por conta do descumprimento das leis da Progressão de Carreira, a Prefeita Lucimar lesa os trabalhadores em torno de R$ 200,00 à R$ 3.000,00 (duzentos a três mil reais), por mês em seus salários.
Tudo isso, conduz o professor que estuda diariamente e tem ótimo conhecimento pedagógico, a escolher um de dois caminhos: dar curso para os demais, sabendo que não serão colocados em prática devido a falta de recurso básicos, ou lutar para sair da cidade, vislumbrando outro concurso melhor. Principalmente os docentes mais novos.
É notório, nos encontros entre professores as sucessivas reclamações, os mais estudiosos reclamam da estrutura que falta para colocar em prática tudo que é discutido nos cursos, contando ainda com a falta de administração dos gestores escolares. Muitos estão completamente defasados em relação à nova geração, reclama dos professores e ainda querem alunos na fileira, quieto, sem conversa, silêncio absoluto em uma sala superlotada com todas aquelas dificuldades.
E assim segue e seguirão, até quando a população acompanhará de olhos vendados, já sabemos que é adequado para classe política não investir em educação e nem ampliar a visão crítica da população para que continuem dando um pacote de feijão e ganhando uma barra de igual valor, apenas no peso. Dessa forma, seguem pobres professores carregando no lombo o peso da carga e ainda levando chicotadas por tudo que sair errado tanto na sala de aula ou fora dela.
Verônica de Cássia da Silva, Licenciatura em Letras pela UNIVAG e Pedagogia pela INVESTE – Trabalhou como Professora na EMEB José Estejo e EMEB Air Addor, ambas em VG, mas solicitou exoneração devido aos problemas e principalmente a falta de valorização profissional e ingressou na educação de Cuiabá.